Um encontro para discutir as questões da paternidade

Do chamado de um amigo para bater papo a respeito da paternidade, surgiu a possibilidade de se montar um grupo para pais. Trocando ideias com uma amiga terapeuta a respeito das dores trazidas na experiência do meu percurso atendendo famílias, principalmente os que exercem a função paterna, me surpreendi com a pergunta dela:  “Posso indicar pessoas para este grupo?” Respondi que não se tratava de um grupo e sim do que eu estava escutando nos atendimentos e conversas com amigos e ela seguiu: “Então quando formalizar me avisa, tenho pessoas para encaminhar”. 

Aquilo mexeu comigo, aliás, eu estava mexido com aquelas dores. Amigos, conversando sobre suas dúvidas, revelando suas dores e seus amores. Ouvindo os relatos, fui montando o comum das cenas que passavam em câmera lenta. A vida de solteiro, o encontro com uma paixão, o desejo de um projeto de vida comum, uma gestação e a chegada de um filho.

Sempre que recebo a notícia de uma gestação, costumo dar uma sugestão ao pai, cuide dela, cuide da mãe. Confie que do filho ela cuidará. Esta construção é de Winnicott, um psicanalista com olhar incrível sobre a criança. Estes pais voltam depois dizendo que olhar para suas companheiras, foi uma das questões que mais lembram no turbilhão de emoções da chegada de uma criança na vida de uma família.

As perguntas usuais, a partir da imagem que possuem da minha atuação, costumam ser: Quanto custa criar um filho? É muito caro mesmo? E assim por diante. Mas tenho escutado questões diferentes a respeito dos desafios da paternidade. Não eram como dar conta de arcar com as despesas e sim, como dar conta deste desejado papel. Esta difícil, pesado, drenante, desafiador, os sorrisos infantis, as descobertas com os pequenos seres vão sendo encobertas pela nova rotina. Rotina descrita como sem fim, tomando mais espaço do que se sentiam capazes de dar.

Aqueles relatos geraram perguntas, por que estão sentindo isso? 

Novas configurações familiares, viver mais distantes dos próprios pais o que dificulta pedir ajuda. Ambos sairem para trabalhar, escolher por uma creche ou escola, algumas meio período e o que fazer no outro meio período? “Era pra ser gostoso ficar com meu filho, mas só estou enxergando a obrigação”. A agenda flexível de trabalho – os sonhados dias de home office – não acontecem como haviam imaginado, as demandas do filho, não permitem a concentração necessária e sobra apenas o final da noite: cansados demais para trabalhar, aumenta a tensão.

Final do dia, ambos cansados (pai e mãe), filhos com energia, casa e mais rotina, surgem as discussões. Restam um ao outro, a aliança vira ringue, ambos necessitando de alguns minutos de individualidade, de reconhecimento e espaço entre adultos. Vão do embate as acusações e em seguida o sentimento de desamparo, de estar se perdendo, do sonho se distanciar.

Cada um com sua história e percurso, alguns querem “descer do barco”, outros relacionam o problema ao outro, muitos se perguntam: “O que posso fazer?”

Não acredito em respostas prontas nem fórmulas que sirvam para todos. A psicanálise me trouxe com clareza a percepção do indivíduo. Percebo que nós homens temos poucos espaços de trocas honestas que acolham nossas fragilidades e impotências sem que venham os julgamentos ou a busca imediata de soluções. Não temos repertório para sair com a angústia e a dor do outro, aprendemos a dar um destino para isso por meio de uma “dica” de amigo.

Mas os tempos são outros, nós somos outros, as demandas são outras e aceitei a provocação da minha amiga para montar um encontro para se discutir as questões da paternidade. Existem muitas outras ao redor do masculino, mas este será o enfoque de partida. Troquei experiências com alguns colegas que fazem grupos, recolhi sugestões e vou experimentar.

Na torcida para que aqueles que vivem as questões da paternidade e da função paterna, já que nem sempre é o pai biológico quem assume este papel e função, possam ser beneficiados pelos encontros. Que a roda, o grupo e os encontros, sejam capazes de nos acolher e ampliar nossos olhares a respeito de nós mesmos e quem sabe reconhecer que as dores, angustias e aflições, não sejam apenas nossas.

Neste primeiro, no dia 30/09/19, ofertarei o espaço, o café com bolo e o tempo. Então juntos, a partir do fraterno da economia, chegaremos num modelo que inclua todos que queiram vir. Um modelo de contribuição surgirá e será construído por todos nós.

Será assim, simples como acredito que deva ser, sem inscrições nem burocracias, basta chegar.

Onde? Na Rua Jericó, 255 – Sumarezinho (perto do metrô Vila Madalena)

Quando? Dia 30/09/19, uma segunda-feira.

A que horas? Das 18h às 19h30 (cedo eu sei, mas como diz uma professora querida, é o que temos para hoje, quem sabe juntos encontraremos horários mais adequados se for o caso)

Haverão outros? Espero que sim, reservei as seguintes segundas-feiras: 28/10, 11/11 e 25/11.

Um abraço e até lá!

Fabiano

categorias:
Paternidade, Sonhos
artigos recomendados:

Buscar: